Laerte Ramos, há vinte e seis anos atuante no circuito cultural de arte contemporânea como artista, diretor da produtora Studium Generale desde 2014 e curador, organiza projetos a fim de disseminar cultura em suas inúmeras linguagens e possibilidades. Com foco em artistas emergentes, desenvolve projetos de curadoria, orientações de pesquisa e conexões entre artistas e atelier, resultando em exposições e mediações de arte. Em parceria com sua produtora, desenvolve documentários a fim de aproximar o público das pesquisas de arte contemporânea, facilitando o acesso a arte e sua compreensão.
Em sua pesquisa pessoal, também promove projetos com xilogravura, serigrafia, performance, desenho, video-arte, fanzine, escultura feltragem e cerâmica/porcelana. Participou da EXPO Milano em 2015 representando seu país no pavilhão brasileiro assim como desenvolveu o projeto “Casamata” no Octógono da Pinacoteca de São Paulo. Participou de residências na Cité dês Arts na França, no EKWC na Holanda, na Bordallo Pinheiro e Vista Alegre em Portugal, na Beyeler Foundation na Suíça e no TPW/Jingdezhen na China entre outras.
Em 2017 deu início as práticas curatoriais de fato, inaugurando no ano seguinte a mostra “SCAPELAND - Território de Trânsito Livre” com 54 artistas no Memorial da América Latina em São Paulo, que contava ainda com um módulo especial de performance. Em 2019 trabalhou como curador na mostra “Compreensão do AR (ou E=M2)” do artista plástico falecido Egidio Rocci (1960 - 2015) em parceria com o SESI proporcionando uma exposição itinerante em quatro cidades: São José dos Campos, Campinas, Itapetininga e São José do Rio Preto. Ainda em 2019, participou como curador da exposição “Onde a Distância do Horizonte se Perde”, da artista Ana Takenaka, sendo esta última parte de um programa de residências do coletivo Piratininga.
Em 2020, Ramos recebe o prêmio Marcantônio Vilaça - FUNARTE, com uma mostra póstuma de Egídio Rocci, que foi doada por completo para o acervo do Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba - MACS, em São Paulo. No mesmo ano recebe ainda o l˚ Prêmio Adelina de Curadoria pelo Instituto Adelina com a mostra AMAZONA com as artistas Hadna Abreu (Manaus), Renata Cruz e Laura Gorski (São Paulo). Por três anos participou como convidado para orientar artistas em formação na OMA galeria. Em 2022, curou a exposição Fragmento/Memória (Tudo parece ja ter sido assim antes) no Ateliê 284 com a artista Carol Ambrósio e texto de Bruno Novaes e participa também como juri de seleção em editais públicos. Em 2023 atua como curador do projeto Jaraguá1135M em parceria ao Adelina Instituto ao longo de todo o ano com atividades extra-exposição e em 2024 cura a exposição Latência do artista Dee Lazzerini no MAB - Museu de Arte Brasileira em São Paulo.
Atualmente desenvolve como diretor-curador:
- AR: Acervo Rotativo
Idealizador e curador do “AR: Acervo Rotativo” que consiste na construção de um acervo de arte contemporânea. As obras de até 5x5cm, ou até 5x5x5cm são doadas para o “AR” pelos próprios artistas a fim de disseminar a arte pelas cinco regiões do país focando instituições culturais desfavorecidas geograficamente e tornando possível intermediar obras, artistas e público de uma maneira eficaz com baixo custo operacional. O projeto conta com cerca de 400 artistas participantes e mais de 1000 obras de arte.
+info: @acervorotativo (instagram)
Locais por onde ocorreram as exposições do Ar: Acervo Rotativo:
2024
[ artistas: 400 ] [ Ar: Acervo Rotativo ] Circulação PROAC - MARP - Museu de Arte Contemporânea de Ribeirão Preto, SP.
[ artistas: 400 ] [ Ar: Acervo Rotativo ] SESI - Rio Preto, SP.
[ artistas: 400 ] [ Ar: Acervo Rotativo ] SESI - Campinas, SP.
[ artistas: 400 ] [ Ar: Acervo Rotativo ] SESI - Itapetininga, SP.
2023
[ artistas: 400 ] [ Ar: Acervo Rotativo ] Circulação PROAC - MACS - Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba, SP.
[ artistas: 12 ] [ Ar: FOUND ] + Circulação PROAC - MACS - Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba, SP.
[ artistas: 99 ] [ Ar: Acervo Rotativo ] "Novas Aquisições" - 279>378 - Lux Espaço de Arte, São Paulo, SP.
2021
[ artistas: 279 ] [ Ar: Acervo Rotativo ] Oficina Cultural Oswald de Andrade & Adelina Instituto (apoio) São Paulo, SP.
[ LATÊNCIA ]
2024 - MAB - Museu de Arte Brasielira - FAAP
Artista: Dee Lazzerini
Curador: Laerte Ramos
[ LATÊNCIA ]
Para Dee um alfinete alude à agressão, e um milhão deles, proteção.
Assim introduzimos aqui a percepção do artista, diante de suas obras apresentadas no Mezanino do Museu de Arte Brasileira - MAB/FAAP Em sua infância, com referência forte de sua mãe, tias e avós, Lazzerini se entrelaçava em tecidos, linhas, barbantes, agulhas e alfinetes - um lugar lúdico para uma criança e ao mesmo tempo de muito trabalho entre suas referências. Naquele tempo, os alfinetes eram guias, marcações de medidas, de ajustes e de superstições. Os alfinetes, depois de um dia de trabalho e uso, descansavam em uma pequena almofada arredondada, criando ali uma das principais referências para
Dee.
Os ponteiros avançam e Dee se forma como dentista, ampliando pesquisas com mestrado e doutorado em engenharia de biomateriais, profissão não mais exercida pelo artista, apesar dela influenciar até hoje na construção de corpos artificiais. Mais uma vez, diante das mãos de Lazzerini, pequenas formas arredondadas se encontram com metais pontiagudos - dentes (dentina, cálcio, osso e gengiva) e brocas, raspadores, pinças e curetas. O orgânico e as ferramentas, nas mãos de Dee, com a missão de limpeza, restauro e cura.
Para um artista, tudo que se experimenta em vida vira processo e estudo, mesmo quando nem se tem intenções claras e objetivas: as mãos e as memórias fluem e encontram outros caminhos de ações.
E assim, a arte foi ganhando espaços dentro e fora de Lazzerini.
Na obra "Latência" (substantivo feminino .período durante o qual algo se elabora, antes de assumir existência efetiva), que leva também o nome da exposição, fica claro como o artista transcende sua experiência de vida, nos convidando a perceber o tempo de seu pensamento, da construção, e o passo a passo das estruturas físicas de seu processo. Nos fazendo sentir na pele o calor do verão, o florescer da primavera, o frio do inverno e a luz única de outono, através de um time-lapse escultórico.
Suas obras nos convidam ao deslocamento, não apenas o físico de circundar os volumes, mas de tentar entender e desvendar o material, de ver de perto a organização impecável dos alfinetes - todos em harmonia entre si - como na natureza, em um dente de leão - a flor que se desfaz ao sopro.
Aqui as esculturas proporcionam duas camadas, a de dentro e a de fora. Com uma estrutura frágil e macia de poliuretano (espuma) por baixo, recebe forma e cores, e por cima uma chuva de alfinetes que, mesmo perfurando de maneira organizada a escultura, a protege. Como no caule e troncos de algumas espécies de plantas e árvores, que evoluíram e se transformaram para se proteger - mas neste caso com espinhos para fora.
Dee assume esta dor em nosso lugar, protegendo sua arte, seu bem maior, com as pontas dos alfinetes para dentro - criando uma segunda camada de proteção para nossos olhos como espectadores. Um cuidado, uma cura, digna de um mestre acupunturista que conhece os corpos independente das formas que possuem: consegue ser preciso e dominar volumes com as pontas dos dedos.
JARAGUÁ1135M
[ JARAGUÁ1135M ]
2023 - Oficina Cultural Oswald de Andrade
Apoio Institucional: Adelina Instituto
Artistas: Alexandre Ignácio Alves - Ana Takenaka - Gabriela Sacchetto - Mariana Serri - Raphael Gianinni - Ulysses Bôscolo
Curador: Laerte Ramos
[ JARAGUÁ1135M ]
São Paulo cada vez mais e dominada pelo asfalto e pelo concreto que cobre cada milímetro da cidade que se expande e se renova, em construções cada vez mais avassaladoras. Encoberta por uma camada cinza, nossas paisagens naturais vão desaparecendo da vista, e o horizonte, cada vez mais alto para se ver. A memória aqui se torna fundamental como uma recordação em uma fotografia.
O horizonte ainda pode nos conectar com algo a mais.
É possível acessar paisagens antigas em cenas históricas, do dia a dia e paisagens comuns de diversas épocas em livros, fotografias, pinturas e documentários. Há anos buscamos maneiras de nos conectar com o nosso entorno seja através da relação de pertencimento ou do reconhecimento de signos, e aqui a paisagem exerce um papel único.
Como um elo entre o passado e o presente, o Pico do Jaraguá traz consigo histórias enraizadas na memória coletiva, permanecendo imutável em nosso horizonte, testemunhando as transformações e mantendo-se como um símbolo de identidade e pertencimento não só de uma cidade, mas de milhares de pessoas há anos.
No entrelaçamento entre o Pico do Jaraguá e a cidade, há um diálogo contínuo entre a natureza e o ser humano, como um ponto de fuga e conexão, ele se fez presente na vista dos ateliês desses artistas que compõe a mostra.
Mesmo com o deslocamento entre os bairros de Perdizes, Lapa, Água Fria, Santa Cecilia e Campos Elíseos é possível vê-lo da janela de todos eles, se fazendo presente, como uma obra de arte esculpida pelo tempo, do alto dos seus 1135 metros, um guardião da natureza que nos observa, um refúgio que nos conecta silenciosamente. Dentro da mesma área urbana, aos pés do Pico a menor terra indígena do Brasil ainda é habitada pelos Guarani Mbya.
Sinônimo de resistência: a natureza, a terra, a paisagem. Segue conectando pessoas, histórias e as memórias.
[ Fragmento/Memória - Tudo parece ja ter sido
assim antes ]
2022 - Atelier 284 - São Paulo/SP
Artista: Carol Ambrósio
Curador: Laerte Ramos
Texto: Bruno Novaes
Fotos: Filipe Berndt
[ Fragmento/Memória - Tudo parece ja ter sido assim antes]
entre coisas ordinárias e elementos de estima
isso tudo já estava aqui antes de você chegar
e é por já estarem aqui que guardaram em si os resíduos dos gestos
agora te vejo manipulá-las como quem coleciona as coisas libertando-as da servidão de servir para que não sejam coisas que esperem por ele
para que não sejam mais cacos nas mãos delas
mas para que se ancorem na força dos seus cabelos
e assim possam ganhar a oportunidade de falar
- o que elas têm a dizer?
- o que nós temos a ver com os rastros dos mortos?
- e o que eles iriam pensar se descobrissem suas heranças?
o legado pode ser uma carga indesejada herdamos, às vezes, mais do que nos cabe seja em volume, seja em silêncio
nos deixam o que lhes valeu
ressoam nas nossas vozes
nós os portamos em nossos corpos
e os vazamos em potes, urnas, baús, caixas, latas, gavetas tentamos colecionar como quem tenta salvar
como quem busca interpretar o destino
como aquela criança que inventava o seu próprio mundo
você nos abre a porta desse lugar imaginado e nos convida a entrar
tudo aqui parece já ter sido assim antes
como se você tivesse a árdua e doce missão de reunir os cacos que se desuniram lá atrás num tempo em que um pires e um abajur não deviam ter se separado
quando aquela xícara não merecia ter se despedaçado
ou no momento exato em que uma rosa nasceu e a última estrela caiu
carolina, a gente passeia pelas criações com as quais você nos presenteia e, ainda que suas metades tenham passeado pela casa de penhores, pelos antiquários, pelos brechós das avós, ainda que elas tenham sido presentes de outros tempos e em outros corpos, elas parecem, finalmente, ter encontrado o seu destino
como fortunas descobertas, aparentemente, ao acaso
que, embora nos abram os cortes e as feridas dos pedaços de nós,
nos devolvem, em meio às frestas, a chance de (de)morar no tempo das coisas
bruno novaes — 11.11.22
[ Ar - Acervo Rotativo ]
2021 - Oficina Cultural Oswald de Andrade
Curador: Laerte Ramos
Apoio Institucional: Adelina Instituto
Fotos: Anna Bogaciovas
[ Ar: Acervo Rotativo ]
A arte em sua essência é desafiadora, assim como as suas tramas: a construção de uma carreira, a produção, as exposições, as vendas e como administrar o tempo e os custos que essas etapas envolvem.
Por muitas vezes, é solitário.
Utopia pensar em um grande número de artistas expondo e rompendo barreiras sejam físicas, territoriais ou democráticas. Juntos, criamos um corpo denso, diverso e potente.
É nesse estado de êxtase, como quando se inala o “AR” profundamente e se renova, que é possível ver em cada pequeno centímetro ou até no conjunto de poucos milímetros, o gesto e as escolhas de cada um dos artistas convidados e envolvidos.
A potência que o pequeno formato toma em uma grande soma coletiva, confronta com a grandeza dos espaços institucionais, traçando uma linha de conquista que preenche lacunas e dissemina saberes e curiosidades.
É um momento de olhar para dentro desse pequeno universo, de ouvir, de sentir e de olhar também para o próximo, de trocar, multiplicar e somar.
Essa é a essência do “Ar: Acervo Rotativo”, um acervo público e independente, composto por obras de até 5 cm (ou até 5 x 5 x 5 cm) produzidas por artistas contemporâneos.
Todas as obras que integram este acervo foram doadas pelos próprios artistas.
É possível acessar as imagens das obras que compõem o projeto no perfil do instagram [ @acervorotativo ].
Dos idealizadores,
Natacha Janus & Laerte Ramos
ARTISTAS: [ 279 ]
EVANDRO PRADO - TAMARA ANDRADE - BRUNO NOVAES - SERGIO ALLEVATO FILHO - DANIELLE NORONHA - THEREZA SALAZAR - GABRIEL TORGGLER - ANTONIA BARA - DIEGO CASTRO - ROGERIO PINTO - FELIPE GOES - ULYSSES BÔSCOLO - MAURICIO PARRA - THATIANA CARDOSO - ROSILENE FONTES - BEATRIZ RUCO - GABRIELA SACCHETTO - MARLENE STAMM - RENAN MARCONDES - ANA TAKENAKA - ANGELLA CONTE - RENATA CRUZ - ANDREY ROSSI - MARINA WOISKY - ANGELA OD - MAI FUJIMOTO - NARIO BARBOSA - DANIEL MELIM - MANOEL VEIGA - AZEITE DE LEOS - MARCELO GANDHI - JOÃO ANGELINI - THIAGO TOES - ELIAS MURADI - DARIO FELICÍSSIMO - MATIAS PICON - MIRLA FERNANDES - HELCIO BARROS - ANA RUAS - FÁBIO MAGALHÃES - ALICE RICCI - PATRICIA BAGNIEWSKI - JULIA GONZALES - ERIEL ARAÚJO - RICARDO ALVES - MATHEUS GUILHERME - LUCIANA PAIVA - RAFAEL KENJI - MARIA QUEIROGA - RAFAEL ALONSO - KEYT MENDONÇA - DAVID MAGILA - ADRIANO FRANCHINI - CLEIRI CARDOSO - RODRIGO BUENO - GUILHERME TEIXEIRA - LUCA PARISE - BETTINA VAZ GUIMARÃES - KATIA FIERA - LILIANA ALVES - JUNIOR AHZURA - BETÂNIA SENSINI - HERMANO LUZ - AUNI SEIVA - YULI YAMAGATA - RAPHAEL GIANNINI - SANTOS AMAURY - C. L. SALVARO - MAURIÍCIO ADINOLFI - EFE GODOY - ALISSA OSUMI - FERNANDO SOARES - ERICA KAMINISHI - MARCIA CYMBALISTA - HUGO DE LEONI - ANDRÉ FILUR - RICK RODRIGUES - TIAGO SEGUNDO - ILDEU LAZARINNI - SERGIO NICULITCHEFF - ANA DIAS BATISTA - RENATO LEAL - LEANDRO DA COSTA - DIOGO BUENO - TANGERINA BRUNO - DAVID ALMEIDA - AMANDA FAHUR -GUSTAVO TORREZAN - MARCIA PORTO - HADNA ABREU - ANA JÚLIA VILELA - MARTINA BRUSIUS - MONICA RIZZOLI & TONY DE MARCO - MÁRCIO ALMEIDA - MARCIA ROSENBERGER - CATHARINE RODRIGUES - MÁRIO VASCONCELOS - HUGO FORTES - FLAVIO ABUHAB - THAMYRES DONADIO - MURILO KAMMER - BEATRIZ CHACHAMOVITS - LULO CHAUMONT - SILVIA RUIZ - MARCELA CAMPOS - VITOR ZANINI - ISABELA COUTO - LAURA GORSKI - CLAUDIO MATSUNO - GUILHERME MOREIRA - THAIS BELTRAME - MARCELO MOSCHETA - MAÍRA PAIVA - NILSON SATO - CHARLES CUNHA - EDVANIA RÊGO - LARISSA CAMNEV - RENATA VOSS - RAUL LEAL - RODRIGO RIGOBELLO - JOÃO HENRIQUE - MARIA ANDRADE - BEL BARCELLOS - YARA DEWACHTER - SERGIO ROMAGNOLO - LUIZ 83 - YARA FUKIMOTO - MARTA NICHOLSON - PATRICIA GERBER - VIRGÍLIO NETO - RICARDO SANCHEZ - ALAN OJU - RAFAELA ANTUNES - ANA MERCADO LEAL - ADALGISA CAMPOS - MIRELA CABRAL - JÉSSICA CALDEIRA - FERNANDA AZOU - AMANDA MEI - MARÍLIA SCARABELLO - ELTON HIPOLITO - CORINA ISHIKURA - DIEGO RIMAOS - CLAUDIA INOUE - SEBASTIÁN MUTUVERRIA - RODRIGO CUNHA - MÔNICA LÓSS - HENRIQUE DETOMI - ASTER DA FONSECA - CAROLINA PAVAM FERREIRA - PETER DE BRITO - ANDRÉ FELIPE CARDOSO - PEDRO HENRIQUE MOUTINHO - THIA SGUOTI - MARCONE MOREIRA - LUCIA CASTANHO - LUCAS SIMÕES - YULI ANASTASSAKIS - LAURA MATTOS - JÚNIOR SUCI - LUCIANO OGURA - GIOVANI CARAMELLO - ISADORA ALMEIDA - JEFF BARBATO - MARIA LIVMAN - MARINA DA SILVA - ALINE MORENO - DIANA VAZ - MARLI TAKEDA - BRUNO ALVES - DANIELE SHIROZONO - ANA HORTIDES - ZUBA - LEANDRO MUNIZ - MARCELA CÁNEPA - JAN M.O. - PAULO PENNA - VII LENARD - JULIANA JACYNTHO - CARÓ - ÉLCIO MIAZAKI - CRIS BASILE - ANA ZEQUIN - KATIE LAGAST - LUCIANO ZANETTI - RAFAEL CAMPOS ROCHA - MONIQUE HUERTA - ANA FREITAS - FABIO MENINO - JAMES KUDO - MARIANA GONÇALVES - VERONICA LAMINARCA - PATRIZIA D'ANGELLO - ISIS GASPARINI - DANIEL FRANCO & DENISE CRUZ - REGIS RIBEIRO - NEILIANE ARAUJO - DANIELA AVELAR - DENIS MOREIRA - DANIELLE CARCAV - FÁBIO FLORENTINO - RAMO - AMÁLIA BARRIO - ISAURA OGAWA - CRISTINA SUZUKI - ANALIA GAGUIN - SANDRA LAPAGE - NALU ROSA - WAGNER OLINO - NATHALIA FAVARO - SOFIA SALEME - RENAN TELES - PEDRO PESSOA - RODRIGO LINHARES - - HELÔ SANVOY - ANGERAMI - VERÔNICA SPNELA - JÚLIA STRADIOTTO - CARLOS PILEGGI - LUCIANA BERTARELLI - REYNALDO CANDIA - MARITA HEWITT - TEC - LEDA BRAGA - JULIE DIAS - TIAGO JUDAS - DANIELA MARTON - CARLOS MONARETTA - GINA DINUCCI - CESAR FUJIMOTO - MIRELLA MARINO - GABRIEL PESSOTO - MARCIA GADIOLI - BRUNO FERREIRA - ISABELLA LESCURE - ALOYSIO PAVAN - ROBERTA SEGURA - ALEXANDRE IGNÁCIO ALVES - LETÍCIA LARÍN - ELISA ARRUDA - SHEILA ORTEGA - MARCELO DIAS - FERNANDA FIGUEIREDO - RAFAELA FOZ - LUCIMAR BELLO - EDER ROLT - ARLETE KALAIGIAN - MESMO - MARIANA SERRI - TIAGO COSTA - CARU DUPRAT - ALINE VAN LANGENDONCK - YOHANA OIZUMI - HUGO MENDES - ROSA GRIZZO - RENATA PADOVAN - MARCOS GORGATTI - JESSICA LAURIANO - MAURO YAMAGUTI - ALICE GELLI - GAMAH - JADSON ROCHA - CLAUDIA HAMERSKI - EDUARDO BALTAZAR - RAQUEL FAYAD - MARJÔ MIZUMOTO - COLECTIVO POTÊNCIA - TALY COHEN - CK MARTINELI - SIDNEY PHILOCREON - MONICA RUBINHO - FLAVIA RENAULT - DENISE CRUZ & DANIEL FRANCO - JULIANA FREIRE - JULIA PEREIRA - ISABELA VIDA MORENO - JUAN CASEMIRO - CATARINA GUSHIKEN - BRUNA SIZILIO
"Compreensão do AR ou (E=M2)"
2020 - MACS - Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba
Artista: Egidio Rocci
Curador: Laerte Ramos
Fotos: Anna Bogaciovas
Compreensão do AR (ou E = M2)
A exposição Compreensão do AR (ou E = M2) apresenta um conjunto de obras do artista plástico caçapavense Egidio Rocci (1960 - 2015). Na exposição, o espectador passará por uma experiência imersiva na poética do artista. Além dos objetos dispostos no espaço, uma projeção de vídeos-slides de fotos de estudos de Rocci e um breve documentário sobre sua produção podem ser vistos em um espaço reservado e convidativo.
Egidio propõe, com sua pesquisa, a transformação - ou a elevação - de objetos que outrora tiveram função e propósito como utilitários - móveis, criados-mudos, bancos, estantes, prateleiras, ou simples pedaços de madeira. Estes objetos aleatórios, ao cruzarem com o caminho de Egidio, eram retirados dos depósitos de móveis antigos e usados, onde muitas vezes estiveram esquecidos por anos, e ressignificados e elevados à condição de obras de arte em museus, galerias e centros de cultura. O filtramento, ou processo criativo do artista em questão, revela ao espectador estruturas escondidas nos objetos de madeira, seja através da eliminação, desmonte parcial ou incorporação de elementos escolhidos de forma precisa pelo artista, compartilhando, assim, seu modo de relacionar-se com o mundo. Egidio assume um papel de intérprete no diálogo entre a madeira e o metal, entre móveis com cara de casa de vó e móveis de escritório, entre o design e a arte, entre o descartado e o encontrado e ainda, entre o esquecido e o lembrado.
O olhar do artista e seu objeto de interesse ficam perceptíveis nos slides projetados em uma das paredes do espaço expositivo. Uma grande parte deles traz fotos tiradas da janela de seu ateliê no Edifício Sta. Branca situado na Avenida Duque de Caxias, em São Paulo entre os anos de 2010 e 2012. Outra parte traz fotos tiradas da sua própria residência, no 8o andar de um edifício em São José Dos Campos, com sua máquina Fujifilm - Finepix HS10 HS11. No vídeo-slide, é possível perceber que mesmo diante de uma janela fixa e de uma paisagem pacata e simples, Egidio organiza seu olhar e convida aos detalhes de seu encantamento: uma conversa entre urubus, camisetas de times de futebol secando ao sol, pessoas andando na rua carregando sacolas de supermercado. Todas estas cenas que passariam despercebidas ao olho comum cativam o olhar do artista e se transformam em objeto de interesse profundo de Egidio. É possível perceber a riqueza de elementos que um mesmo local oferece no dia-a-dia de cada um. Em dado momento, percebe-se, finalmente, que aqueles que ficam nas janelas com suas almofadas aos cotovelos por horas a fio, têm razão para fazê-lo: os dias são todos diferentes e há muita beleza em apreciar o tempo.
E = M2, ou “Egidio por metro quadrado”, é uma referência às estruturas esculturais manipuladas por ele que ocupam áreas com inúmeras memórias de objetos antigos. Memórias estas que foram renovadas em seu ateliê trazendo enigmas a serem desvendados pelos espectadores de seus trabalhos. Correr os olhos, como que em raio-x, pelas estruturas das obras de Egidio proporciona uma compreensão diferente do ar que envolve as esculturas. Os ambientes que tiveram como principal função, a guarda, passam a desvendar o espaço que antes, apenas o ar compreendia. O cheiro de guardado se esvai gavetas são travadas ou descartadas e o conteúdo de seus trabalhos torna-se parte do imaginário de quem os vê, expondo, cada um, seus próprios guardados.
Laerte Ramos
I Prêmio Adelina de Curadoria
"AMAZONA"
2020 - Instituto Adelina
Artista: Egidio Rocci
Curador: Laerte Ramos
Fotos: Anna Bogaciovas
Vídeo: Anna Bogaciovas
AMAZONA
Respire fundo, solte o ar devagar. Ouça sua respiração.
Imagine uma floresta, os sons, o cheiro, os detalhes. Os mínimos detalhes. Foque o olhar, com calma, e agora observe.
Observe.
Chegue mais perto. Sinta a imensidão e a sua pequenez.
Esse é o ponto de partida para adentrarmos a floresta. Entramos através das sensações e percepções de três mulheres que vivenciam uma Amazônia que não a contada nos jornais com onças e araras, queimadas e disputas, mas uma que tem urgência em ser transmitida antes que desapareça.
O deslocamento para dentro da floresta faz com que a imensidão mude de dimensão. O grande, fica pequeno e o pequeno, qual é o lugar do pequeno? Qual o seu lugar nessa imensidão? Pertencer não tem a ver só com o espaço mas também com o lugar das coisas.
A floresta é um grande dentro, a semente. Quanto mais se entra, mais ela te convida para explorar, maior fica. O silêncio. O extraordinário toma seu lugar no silêncio. É nele que é possível entender o lugar. Em cada detalhe, o fabuloso. Nele estão as sensações.
Tudo aquilo que se permite tocar atravessa e nada mais será como antes. A natureza acolhe ao passo que entorpece. Em cada folha, cor e curva que nos leva a novas paisagens, jogos de luz e sombra projetados por cogumelos revelam um micro mundo misterioso. Muitas pistas são deixadas nesse caminho: galhos, terra, raízes, cascas, carcaças, pedras. Os insetos, com seus trajes mutantes, transformam o lugar e, de forma sutil, também observam. As vezes é preciso buscar longe, tudo aquilo que está ali dentro da floresta.
Hadna faz da Amazônia seu quintal desde pequena. Em suas aquarelas, deixa fluir a floresta que nem rio conduzindo todas as memórias vivas das suas visitas. Livres, essas memórias tomam outras formas e superfícies peculiares. Aqui a tecnologia é mágica pois só ela é capaz de reproduzir o encanto da bioluminescência.
Laura foi atravessada pela paisagem que existia dentro dela conforme caminhava mata adentro. A cada passo, mais fragmentos para que ela se conecte cada vez mais com aquela terra. Fazer parte do todo - onde o tempo não mede as horas e sim permanência - conecta o agora com os ancestrais através da mesma terra, num eterno ciclo.
Renata ouve no silêncio. É assim que ela atende os pedidos que a floresta e seus habitantes lhe fazem. Um pássaro que pousa calmamente para que seja visto, se deixa observar, observando. Quantos mais ali passaram e ainda se veem? Os pequenos detalhes, a presença de muitas histórias que ainda não foram contadas: a palavra que não se traduz.
Essas mulheres que desbravam a si mesmas em seu tempo, armadas de sua sensibilidade, aceitam que eu as acompanhe pelo desconhecido conectando espaços, tempos, e nos autorizando observar através de seus olhares e fazeres. Deslocamentos permitem observar outras vistas, permitem sair da zona de conforto, do lugar comum. Faltam palavras, sobram sensações.
É assim que saio do meu lugar de protagonista para ser observador. E assim me sinto, e sou parte do todo, de tudo que nos conecta.
laerte ramos // agosto 2020
AMAZONS (ENGLISH)
Take a deep breath, let it out slowly. Listen to your breathing.
Imagine a forest, the sounds, the smell, the details. The tiniest details. Focus your sight, calmly, and now watch.
Watch.
Get closer. Feel the immensity and your own smallness.
This is the starting point for entering the forest. We enter through the sensations and perceptions of three women who experience an Amazon Forest that is not told in the news with jaguars and macaws, bushfires and disputes, but one that has an urgent need to be communicated before it disappears.
The dislocation into the forest causes the immensity to change in size. The huge becomes small and the small, where does the small belongs? Where do you belong within the immensity? Belonging is not about occupying any given space but about the place of things.
The forest itself is actually a grand inside, a seed. The further you enter, the more it invites you to explore, the larger it gets. The silence. The extraordinary takes place in silence. In the silence, the place becomes understandable. Fabulous, in each detail, where the sensations are.
Everything that is allowed to touch goes through and nothing else will be as before. Nature welcomes while it dulls. In each leaf, color and curve taking us to new landscapes, sets of light and shadow projected by mushrooms reveals a mysterious micro world. Many tracks are left on this path: branches, earth, roots, barks, carcasses, stones. Insects, with their mutant costumes, transform the place and, in a subtle way, are also observers. Sometimes it is necessary to search afar for everything that is there in the forest.
Hadna has made of the Amazon her backyard since she was little. In her watercolors, she lets the forest flow like a river leading all the vivid memories of her visits. Free, these memories take on other peculiar shapes and surfaces. Here the technology is also magic as only it is able to reproduce the delight of bioluminescence.
Laura was crossed by the landscape existing inside her as she walked into the forest. In each step, more scraps inducing a stronger connection to that land. Being part of the whole - where time does not measure hours but permanence - connects the present to ancestrality through the same land, in an eternal cycle.
Renata hears in the silence. This is how she responds to the requests from the forest and its inhabitants. A bird landing quietly to be seen, allows itself to be observed as it also observes. How many more have passed by and still see each other? The little details, the existence of many untold stories: words with no translation.
These women who explore themselves in their time, armed with sensitivity, accept that I follow them through the unknown connecting spaces, times, authorizing ourselves to observe through their sights and actions. Displacements allow us to observe other views, allow us to leave our comfort zone, the common place. Words are missing, sensations are profusing.
That's how I leave my role as a protagonist to be an observer. And so I feel, and I am part of the whole, of everything that connects us.
laerte ramos // august 2020
"Compreensão do AR ou (E=M2)"
2019 - SESI - São José dos Campos
2019 - Sesi - Campinas
2019 - SESI - Itapetininga
2019 - SESI - São José do Rio Preto
Artista: Egidio Rocci
Curador: Laerte Ramos
Fotos: PH Rosa
Compreensão do AR (ou E = M2)
A exposição Compreensão do AR (ou E = M2) apresenta um conjunto de obras do artista plástico caçapavense Egidio Rocci (1960 - 2015). Na exposição, o espectador passará por uma experiência imersiva na poética do artista. Além dos objetos dispostos no espaço, uma projeção de vídeos-slides de fotos de estudos de Rocci e um breve documentário sobre sua produção podem ser vistos em um espaço reservado e convidativo.
Egidio propõe, com sua pesquisa, a transformação - ou a elevação - de objetos que outrora tiveram função e propósito como utilitários - móveis, criados-mudos, bancos, estantes, prateleiras, ou simples pedaços de madeira. Estes objetos aleatórios, ao cruzarem com o caminho de Egidio, eram retirados dos depósitos de móveis antigos e usados, onde muitas vezes estiveram esquecidos por anos, e ressignificados e elevados à condição de obras de arte em museus, galerias e centros de cultura. O filtramento, ou processo criativo do artista em questão, revela ao espectador estruturas escondidas nos objetos de madeira, seja através da eliminação, desmonte parcial ou incorporação de elementos escolhidos de forma precisa pelo artista, compartilhando, assim, seu modo de relacionar-se com o mundo. Egidio assume um papel de intérprete no diálogo entre a madeira e o metal, entre móveis com cara de casa de vó e móveis de escritório, entre o design e a arte, entre o descartado e o encontrado e ainda, entre o esquecido e o lembrado.
O olhar do artista e seu objeto de interesse ficam perceptíveis nos slides projetados em uma das paredes do espaço expositivo. Uma grande parte deles traz fotos tiradas da janela de seu ateliê no Edifício Sta. Branca situado na Avenida Duque de Caxias, em São Paulo entre os anos de 2010 e 2012. Outra parte traz fotos tiradas da sua própria residência, no 8o andar de um edifício em São José Dos Campos, com sua máquina Fujifilm - Finepix HS10 HS11. No vídeo-slide, é possível perceber que mesmo diante de uma janela fixa e de uma paisagem pacata e simples, Egidio organiza seu olhar e convida aos detalhes de seu encantamento: uma conversa entre urubus, camisetas de times de futebol secando ao sol, pessoas andando na rua carregando sacolas de supermercado. Todas estas cenas que passariam despercebidas ao olho comum cativam o olhar do artista e se transformam em objeto de interesse profundo de Egidio. É possível perceber a riqueza de elementos que um mesmo local oferece no dia-a-dia de cada um. Em dado momento, percebe-se, finalmente, que aqueles que ficam nas janelas com suas almofadas aos cotovelos por horas a fio, têm razão para fazê-lo: os dias são todos diferentes e há muita beleza em apreciar o tempo.
E = M2, ou “Egidio por metro quadrado”, é uma referência às estruturas esculturais manipuladas por ele que ocupam áreas com inúmeras memórias de objetos antigos. Memórias estas que foram renovadas em seu ateliê trazendo enigmas a serem desvendados pelos espectadores de seus trabalhos. Correr os olhos, como que em raio-x, pelas estruturas das obras de Egidio proporciona uma compreensão diferente do ar que envolve as esculturas. Os ambientes que tiveram como principal função, a guarda, passam a desvendar o espaço que antes, apenas o ar compreendia. O cheiro de guardado se esvai gavetas são travadas ou descartadas e o conteúdo de seus trabalhos torna-se parte do imaginário de quem os vê, expondo, cada um, seus próprios guardados.
Laerte Ramos
"Scapeland"
2018 - Memorial da América Latina
Artistas: Ana Ruas - Anderson Godinho - Azeite de Leos - Beatriz Ruco - Cesar Fujimoto - Danielle Noronha - Daniel Nogueira de Lima - David Almeida - David Magila - Diego Castro - Egidio Rocci - Erica Kaminishi - Evandro Prado - Fran Chang - Gabriela Sacchetto - Gilson Rodrigues - Guilherme Callegari - Guilherme Teixeira - Henrique Detomi - Hermano Luz - James Kudo - João Loureiro - João GG - Katia Fiera - Laura Gorski - Leandro Costa - Mai Fujimoto - Maíra Fukimoto - Marcelo Amorim - Mauricio Adinolfi - Mauricio Parra - Nazareno Rodrigues - Paulo Almeida - Regina Silveira - Renata Cruz - Ricardo Alves - Santos Amaury - Sergio Allevato - Sergio Romagnolo - Thiago Toes - Ulysses Boscolo - Vitor Mizael - Yara Fukimoto - Yasmin Guimarães - Yasushi Taniguchi - Yuli Yamagata
+ Núcleo de Performance
Luanna Jimenes - Renan Marcondes - Roberta Uiop - Shima
Curador: Laerte Ramos
Fotos: Thiago Toes
Scapeland: Território de Trânsito Livre
O ato de se deslocar implica em algo, ou alguém, ir de um lugar a outro.
Longe? Perto? A distância pouco importa. O que move é o impulso, a possibilidade de transformação, seja qual for o percurso.
A capacidade de se exprimir de acordo com a sua vontade, é uma das virtudes clássicas atribuídas a um artista. O poder de ser livre, a possibilidade de transitar em diferentes paisagens, conceitos, materiais, ir e vir sem limites de território.
Aqui não há barreiras físicas, há diálogo, troca e aproximação. Dos que se unem, dos que se reconhecem, daqueles que se admiram e se inspiram. Dos que transitam.
Paisagens compostas por tinta, madeira, luz entre outros materiais, habitadas por aviões, motos, pontes, árvores, montanhas, terras e monumentos, compõem este panorama dentro do espaço expositivo da Galeria Marta Traba dentro do complexo do Memorial da América Latina.
Scapeland é um território atingido pelo do olhar de um artista, sobre a produção de outros 46 artistas, um mapa de encontros com um ponto de fuga.
Laerte Ramos.
"Onde a distância do horizonte se perde"
2019 - Atelier Piratininga
Artista: Ana Takenaka
Curador: Laerte Ramos
Fotos: Ulysses Bôscolo
ONDE A DISTÂNCIA DO HORIZONTE SE PERDE
Ana Takenaka apresenta o resultado de sua pesquisa durante a residência de três meses no Atelier Piratininga. Esta imersão proporcionou troca de poéticas com outros artistas, um novo ambiente de trabalho, rotina e experimentações. Ana mostra duas séries nesta exposição: "Vôos n'água" e "Natureza do rabisco", esta última iniciada em 2013.
A primeira, são combinações de matrizes, criando narrativas com espacialidade difusa. Esta atmosfera em seu trabalho une tudo o que contém o ar e o mar, onde a distância do horizonte se perde, e em seu percurso encontram-se pássaros, baleias, embarcações, submarinos e ilhas. A liberdade de conectar elementos, mesmo que presos em suas matrizes de diferentes tamanhos, quando impressos em um mesmo papel, ganham unidade desenvolvendo uma narrativa única e descontraída de uma racionalidade objetiva. Por sobre todas as matrizes que colaboram entre si para a composição de seus trabalhos, Takenaka por fim adiciona uma última matriz de polipropileno ou PET, proporcionando a cobertura total da superfície do papel. Assim, a artista elimina as memórias de relevos das matrizes anteriores, unindo a composição, sem enquadramentos particulares em cada foco de imagem.
Na gravura, a prensa utilizada é algo que determina o tamanho das obras em suas dimensões, porém, a profundidade nos trabalhos de Ana Takenaka vai além de seus tamanhos convencionais. Nela é apresentado o encontro da memória com o imaginado, como se tivesse finalmente, encontrado o horizonte e eliminado todas as suas distâncias.
Em sua segunda pesquisa, Ana apresenta as monotipias, que são impressões únicas realizadas por desenhos feitos no verso das folhas de papel. Estudar, sentir, encontrar as linhas é o desafio que a artista se faz quando se concentra, em um estado meditativo, ao som de músicas de seu agrado, e por fim, em comum acordo com o papel, busca este encontro com as linhas, eternizando este momento sagrado. Takenaka encontra uma variação infinita de linhas, ora como garatujas, lembrando desenhos de crianças; ora carregadas de mais força, densidade e a objetividade de um traço adulto. A transparência do papel japonês, junto às sutis variações de cores, sugerem ao espectador a brincadeira do que esta na frente ou atrás da folha, de qual lado está o verdadeiro desenho.
Estes trabalhos monotípicos, lembram as antigas cadernetas de anotações que ficavam ao lado dos telefones de linha, nos quais ao passar o tempo em uma ligação, muitos desenhavam sem compromisso, surgindo linhas e desenhos aleatórios, descompromissados, construídos por meio de uma conversa qualquer, sem que a outra pessoa presenciasse a ação.
Ana, carrega em seu sobrenome o Take (bambu), e Naka (dentro). Assim como o Bambú que contém o ar dentro de seus gomos e os expande por meio de sua maturação em seu ciclo de crescimento, a artista busca em cada obra abrir estes gomos, divididos por linhas, de maneira planificada. O encontro com o dentro e o fora, usando o ar como ligação entre todos e nós
Laerte Ramos
"X - Caça ao Tesouro"
2017 - Pinacoteca de São Bernardo do Campo
Artista: Yuli Yamagata
Curador: Laerte Ramos
Fotos: Studium Generale
X - Caça ao Tesouro
Yuli dorme no ponto, e no dia seguinte, acorda no próximo. Seus trabalhos são costurados e transformam os planos dos tecidos populares estampados e vendidos em rolos na 25de março em novas possibilidades de formas infladas com a habilidade, agilidade e destreza das mãos de uma jovem artista. Máquinas de costura, linhas, tecidos, agulhas, estampas dentro e fora de moda são utilizadas nas formas-paisagens de Yuli em seu atelier. As estampas são pré-definidas por marcas e distribuídas a venda para a população poder escolher dentro de um menu restrito de opções para servirem como forros, cortinas, protetores de sofás, todos para um uso em sua maioria doméstico. As empresas que ditam as regras e tendências de moda, formatam o gosto do consumidor, que sem muita escolha, absorve apenas o que tem disponível, tornando-se em um refém de estampas dentro de uma prisão sem saída em forma de um grande labirinto de rapport. Assim como Ariadne, que da para Teseu uma espada e um rolo de lã para ele eliminar o Minotauro e achar a saída deste labirinto, Yuli com seu trabalho, possibilita esta saída mágica deste plano repetitivo que não sai de moda. Dando alma aos tecidos, modelando novas formas e desenhando nos planos usando técnicas como moulage, as estampas ganham novos significados que saltam da modelagem plana tradicional. O resultado é uma nova cenografia no cenário da arte contemporânea, que destoa dos padrões repetitivos que se ofuscam no pano de fundo desta cena. Assim como na estamparia de tecidos, a cerâmica e a porcelana possuem a mesma possibilidade de aplicação do pensamento de rappport em aplicação de desenhos, decalques e pintura, possibilitando também a exploração da plástica da argila em efeito moulage.
Laerte Ramos
março 2017