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Nós do Caos, por Thomas Pacheco - 2019

Um pouco diferente da estrutura convencional de um texto curatorial, nesse ensaio me proponho a apresentar o artista Laerte Ramos a partir do referencial direto a uma das obras que faz parte da mostra e que dá nome à exposição.

 

Em “Nós do Caos” o artista parte da referência de tapetes persas, aos quais eu destaco de início a dicotomia entre o luxo que valida esse tipo de manifestação cultural e o ambiente modesto e limitado da produção manual dos mesmos nos seus locais de origem, uma retórica de ambivalência que se segue por todos os desdobramentos do trabalho.

Esta obra acima inclusive, serve como preâmbulo da obra do Laerte como um todo, porque é a partir da oposição que se monta grande parte do seu repertório, da polarização entre forma e conteúdo, com um discurso silencioso e eloquente também na sua própria dicotomia, e que se vê também evidente nessa obra em questão, nos contrapontos justapostos por meio do recurso da impressão lenticular, é o lado e o avesso visto a partir da perspectiva do interlocutor.

 

Os tapetes originalmente se valem de nós para a sua confecção, nessa obra eles foram assertivamente substituídos por pixels, estes que tem a função na linguagem digital, de sintetizar formas, ilustrar, entre outras funções, e é exatamente isso que eles fazem com o espectador, a obra sintetiza, como recurso para a alienação do público, no sentido de emancipação, e evidencia ou apaga o problema através das cores, conforme a postura conveniente do visitante que ao passar por ela encara de frente ou ignora a condição. 

O Laerte orienta sua obra a partir de micro-narrativas, ele dá pistas em todas as esferas, é de uma execução primorosa, e em referência a Gerard Lebrun, não tem uma mensagem, mas contra-informação.

A carga poética dos trabalhos fica por conta da lama que nos cobre, da violência e do descuido com o meio ambiente, todos tão urgentes. 

 

Por ultimo e ainda na mesma linha, faço aqui referência ao artista em sobreposição a obra para que se faça evidente um valor de ordem fundamental no Laerte e que não se confunde com a forma: a maneira como ele conduz a sua produção e a relação que constrói com o circuito da arte, algo que não está no lugar comum e destoa.  

 

Thomaz Pacheco, Galerista, OMA Galeria.

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