50%off - dobras, vincos e desgastes: por Laerte Ramos - 2014
50%off não é promoção, é a metade que falta em uma grande vitrine de esculturas em cerâmica "direitas" ou "esquerdas". Trezentos tênis de linhas casuais de diferentes marcas fazem parte deste conjunto que se apresenta em prateleiras individuais valorizando cada produto exposto. Papéis amassados dentro das esculturas para dar "volume", sequências de vibrações de cores e marcas, trazem ao espectador este aspecto varejista presente em lojas e shoppings.
A captura dos tênis é a captura também da personalidade do indivíduo, que escolhe um par de tênis para andar, se locomover com segurança e se proteger de pedregulhos. Estes pares de tênis por sua vez, espelham a personalidade de seu dono, gosto pessoal e opções ligadas a moda, tendências e a classes sociais também. A maneira de como o indivíduo anda por sobre os pisos, as calçadas e o asfalto, desgasta a sola de uma maneira única. Assim como os vincos que são marcados nas dobras do couro, da lona e da borracha - estes contam as estórias dos passos de cada um, de cada dia que foi usado ou rejeitado e seus trajetos de casa para o trabalho, ou direções que o dia-a-dia nos impõe. São esculturas que espelham memórias de nossos passos e de nosso caminhos. O material usado, a argila, é terra/barro – e esta, outrora era espectadora dos passos e pegadas, e agora, torna-se protagonista como escultura espelhada, trocando estes valores de negativo (superfície do chão) para positivo (escultura tridimensional). De terra a argila, da argila a cerâmica, da cerâmica a uma memória ativa, digna de ser um retrato contendo movimentos e passos de seus doadores: donos de estórias, vincos, dobras e desgastes.
- Agradecimento as marcas:
Vert (François Ghislain)
Öus (Rafael NArciso)
- Agradecimento aos doadores de tênis para o projeto 50%off:
Paulo Trevisan, Anselmo Ramos, Diego Castro, Cesar Fujimoto, Denis Kamioka (Cisma), Luiz Prieto, Fernando Costa e Anônimos.
ENGLISH
50%OFF: is not a sales discount, it is the missing half of a big shop window of sculptures in “right” or “left” ceramic. Three hundred sneakers of casual footwear collections of different brands are part of the set of sculptures displayed on individual shelves that turn to enhance them. Crumpled paper stuck inside the sculptures in order to create “volume” together with sequences of vibrations of colors and brands, bring to the viewer the retail look of stores and shopping centers.
To capture the image of the sneakers is also to capture the personality of the individual who chooses a pair of sneakers to walk and to get around safely by protecting his feet from rubbles along the way.
These pairs of sneakers, in turn, reverberate its owner’s personality; taste and fashion trend choices, as well as socioeconomic status. The way in which the individual steps on the floor, on the sidewalks and asphalt, wares the sneaker’s soles in a singular way. Similarly to the creases, which are marked on the leather folds, sailcloth, and rubber, the marks on the sneaker’s soles tell the stories of everyone’s steps, of each day the sneakers were worn or rejected, also telling about their routes to and from home together with other directions that daily life presents to us.
They are sculptures that mirror memories of our steps and of our paths. The material chosen, clay, is mud: once a spectator of steps and footprints and now a protagonist as mirrored sculpture, switching the values from negative (ground’s surface) to positive (tridimensional sculpture). From soil to clay, from clay to ceramic, from ceramic to an active memory, worth being called a portrait of movements and steps of its givers: owners of stories, folds, creases and wear.
(english version: Mariana Nicotera)