O projeto "Casamata" tem em seu nome o significado de fortificação abobadada, um termo utilizado de modo bastante genérico na arquitetura militar, e que pode designar instalações de vários tipos e tamanhos, geralmente para abrigar armamentos ou pessoal de maneira passiva ou ativa, tal como postos de combate, infantaria ou artilharia. A ausência das bases nas esculturas faz com que as obras exibam todas as dimensões visíveis, permitindo que o espectador perceba o volume como um todo. As formas retangulares, quadradas e semicirculares são configuradas de várias maneiras a fim de se subdesenvolverem em grupos semelhantes, e sempre com algum elemento em comum ao conjunto. A superfície da escultura lisa, branca e vidrada recebe em algumas de suas partes, convexas ou rebaixadas, areia e plantas. Estes dois elementos, adicionados à escultura, transformam os objetos em pequenos campos de lazer, à espera de pequenos habitantes. As esculturas-fortificações-ninhos de cerâmica tem como objeto de pesquisa o pássaro “Furnarius rufus”, popularmente conhecido como João-de-Barro, que constrói o seu ninho usando barro em forma de forno – daí o nome. O barro, ou argila, é um material de grande maleabilidade e plasticidade, permitindo a elaboração de formas complexas enquanto ainda úmido. Quando seco, torna-se frágil a ponto de derreter com um banho de água ou chuva. Acrescentados ao ninho e sua forma, outros elementos foram inseridos durante a pesquisa como influências da arquitetura moderna, e nas entradas e saídas das fortificações-casamata, um ar de alçapão ou armadilhas dos labirintos subterrâneos das pirâmides egípcias. Cada casamata foi desenvolvida em argila pastosa e maciça que serviu de positivo para a confecção dos moldes de gesso em partes/tacelos. Estes por sua vez geraram cópias fiéis das esculturas originais, porém agora ocas devido a técnica utilizada de argila líquida despejada em moldes. Estas cópias são queimadas em um forno especial atingindo 1000˚, transformando as peças em cerâmica, que são em seguida esmaltadas em cinco camadas, adquirindo uma pele vitrificada por cima da superfície porosa da cerâmica. Toda a argila utilizada nas esculturas após a confecção do molde é reciclada afim de dar forma a uma próxima escultura – um processo de positivo em construção e modificação constante. Essa mesma argila habita uma pasta que assume inúmeras formas: já foi aviões, barcos e armas, participou de re.van.ches e batalhas navais, e descansa em algum balde, aguardando, em sua massa, uma nova memória.