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Elegância e Kitsch convivem em galeria, por Juliana Monachesi - 2003

Na produção artística contemporânea, retratar a paisagem urbana è mania em que ninguém se aventura impunemente. Fotografias de ruínas (arquitetônicas ou humanas) são o recurso mais comum para abordar o caos da metrópoles.Os trabalhos de Laerte Ramos, que realiza a sua primeira exposição individual a partir de hoje na galeria Casa Triângulo, vão na contramão da obviedade. As xilogravuras do artista possuem concisão digna dos fotógrafos Bernd e Hilla Becher. O paralelo com o casal alemão – que documenta com frieza edificações industriais, como caixas d’água e moradias pré fabricadas – não è superficial: as séries de gravura de Ramos podem ser vistas como inventários de contêineres, armazéns, veículos de roda, poços, bate-estacas. Filho de engenheiro, o artista conta que foi sempre fascinado por esta visualidade. Mas ele não a reproduz nas obras e opta por simplificar as formas ao máximo, inclusive no uso das cores. As gravurassão todas pretas e protagonizam um jogo de peso e leveza em que é o branco do papel que comprime a cor, e não o inverso.Diante das formas sérias e esquemáticas, sem redundância de traços, è possível divisar um universo lúdico. No grupo “Sobre-Rodas”, por exemplo, há um subgrupo de carrinhos de bebê. Na série de 20 pequenos trabalhos feitos a partir de um jogo de montar (tijolinhos de madeira), Ramos retrata o zoneamento da cidade de São Paulo: são 19 zonas (residencial, comercial, industrial, etc.) mais uma, a “Zona 0”, o único lugar próprio para os sonhos.Dividida entre quatro espaços da galeria, a exposição de Laerte Ramossurpreende quando se chega a sala do terraço, com pequenas pinturas coloridas. Apesar do imaginário da mineração e dos veículos persistir, as obras somam a gramática visual do artista bombas e forcas (em traços igualmente esquemáticos) sobre um fundo vermelho. Se o tema da guerra sobrevém, refere-se a conflitos urbanos travados aqui mesmo, em São Paulo. È o tema do “soterramento” das casas em bairros tradicionais para que se construam prédios, como em Moema, onde o artista mora.É o tema, abordado por ele em intervenção urbana (abril de 2002) na saída do túnel que liga a avenida Rebouças ao Pacaembu, do uso do espaço público: desenhando com fuligem da poluição, Ramos levou a prefeitura a interditar o túnel para limpeza. Na última sala da Triângulo, uma mudança de paradigma artístico: a exposição individual de Rogério Degaki acena com uma crítica a tradição da escultura que beira o deboche. Dono de uma trejetória consistente de releitura dos clássicos, o artista aborda neses bibelôs agigantados referências escultóricas filtradas por artistas como Jaff Koones e Takashi Murakami. São monumentos aos heróis contemporâneos.

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